Parabéns Cuiabá! E, meus pêsames...

É com muito pesar que eu, cuiabano, dou os parabéns hoje à minha cidade, 292 anos de uma bela e sofrida história.

Eu estava a 3 anos morando fora de MT, no sul do país, mas a saudade nunca me abandonou. A saudade da cidade natal que eu amo (mesmo com seus problemas) e a saudade das pessoas que eu amo (mesmo com seus problemas também!). Mas enfim, todos temos problemas! Trabalhamos pela solução e temos esperança de que eles sejam resolvidos um dia! Com a cidade é a mesma coisa, e eu tinha muita esperança de que as coisas tivessem melhorado por aqui, para eu me sentir ainda mais orgulhoso dela.

Pra quem não conhece (e é muita gente ruim de geografia...), Cuiabá, a "Cidade Verde" das frondosas mangueiras, é a capital do Estado de Mato Grosso (e não MS!). Cidade calorosa e calorífica, fica num ponto equidistante entre o Atlântico e o Pacífico, no exato centro geodésico da América do Sul. Fundada em 1719, é uma cidade enorme e de números impressionantes: sua região metropolitana possui quase 1 milhão habitantes, possui um PIB de quase 7 bilhões, que responde por 22% do total do PIB de MT, que é o Estado que mais cresce no Brasil. É cercada pelas mais belas paisagens do mundo, Chapada dos Guimarães e o Pantanal, e por fim, basta lembrar que ela foi escolhida pela FIFA para ser uma das sub-sedes da Copa do Mundo de 2014, a solução para todos os problemas.

E aí você pensa: "Deve ser uma ótima cidade!". Deveria...

É então que caímos na triste realidade. Literalmente, CAÍMOS, tantos são os buracos num asfalto velho. E não se trata de um problema isolado, os desníveis e buracos estão até nas principais avenidas. Quando muito, a solução é tapar com um serviço que dura umas 5 chuvas fortes, que levam os remendos todos, deixando uma paisagem lunar. O crescimento urbano desordenado, o crescimento demográfico e o desenvolvimento econômico sem planejamento, somado a um Executivo municipal que figuram sempre os mesmos sobrenomes e não enfrenta problemas históricos, destruíram a cidade. Estamos sempre nas últimas posições dos indicadores sociais. Os serviços públicos e infraestrutura são os mesmos há uns 10 anos já. Sem saneamento, a saúde sofre. Sem Saúde, a população morre, muitas vezes ali mesmo, no corredor do hospital.

Mas a morte não é tão seletiva por aqui, afinal, os índices de violência são os maiores do país. E se não for pela violência, tememos pela vida no trânsito caótico e sem respeito: numa capital com 300.000 veículos, é difícil achar trechos de asfalto para tanto carro rodar, até porque o transporte coletivo (feito por só por ônibus, táxis e moto-táxi), bom, esse mudou bastante: pra pior. A outrora Cidade Verde, cada vez mais cinza, não cuida de seus "parques": regiões de mato mais ou menos ajeitados por onde passam trilhas cimentadas para caminhada. A exceção é o Parque Mãe Bonifácia, único com boas condições e estrutura, realmente um parque. Um.

Ao invés de incomodada, a maior parte da população parece acomodada com esse caos. É certo que estamos de mãos atadas, afinal, não somos nós os competentes (mas nós os colocamos lá!). No entanto, poucos reclamam, debatem, lutam para pelos menos tentar mudar, um pouco que seja, essa situação. Parecem satisfeitos no seu eterno cacarejar e ciscar. Contentes com pouco. Aceitamos tudo indistintamente. Resultado da propagando maciça? Pode ser. Eu mesmo, quando assisto, penso comigo: "que vôo eu pego para conhecer ESSA Cuiabá que tanto mostram na TV?".

A verdade é que o cuiabano ama sua terra com fervor e a defende. Ninguém pode falar mal dela. Um pacto de "ame-a ou deixe-a".

Temos todos os problemas típicos das grandes metrópoles sem ter nenhuma das vantagens das grande metrópoles. Como dar os parabéns desse jeito? É como comemorar aniversário num funeral.

Parabéns Cuiabá! E, meus pêsames.