- Parecia um cenário de guerra. Assim começou nossa conversa. Naquele mesmo dia eu tinha visto na TV local as imagens. Mas, mesmo morando aqui em Santa Catarina, ainda me parecia uma coisa distante. Eu, no conforto do meu lar, assistia perplexo àquelas imagens. Mas logo em seguida ia dormir, repousava em meu sono seguro...
Mas vendo o rosto de sofrimento do meu colega, que tem família em Blumenau, e ouvindo ele me contar com detalhes, entendi então o que era tudo aquilo. Era a primeira semana da tragédia. Na semana seguinte, tomou proporção nacional com uma brilhante cobertura do Jornal Nacional (quem diria...), direto da cidade.
A descrição era a de um filme de catástrofe, com requintes de terror. O nível dos rios subiu rapidamente muito além do normal, alagando as cidades. Como na grande enchente de 1983 em Blumenau (que aliás originou a Oktoberfest como forma de ajudar a reerguer a cidade) a cidade foi novamente foi tomada pelas águas. E, da mesma forma que naquele ano de 83, as pessoas se sentiram mais seguras nas encostas. Foi quando o pior aconteceu. Vieram os desmoronamentos.
Em Itajaí, alagamento de 90% da cidade. Ilhota, Rancho Queimado, São Pedro de Alcântara, Floripa sofreram com desmoronamento e deslizamentos. Pomerode, Luis Alves e todo o Vale do Itajá também foram alagadas. As águas e as pistas obstruídas ilharam cidades e vilas. O Estado inteiro em sua parte leste, e em cada cidade, foi atingido de alguma forma.
E então apareceu um lado cruel do ser humano. Este colega me contou que, comerciantes locais elevaram o preço dos alimentos, da água mineral... Um pãozinho chegou a custar R$3,00 a unidade. Uma água: R$8,00. Um botijão de gás: R$100,00... Para piorar, como a maioria dos bairros o acesso era feito somente com barcos. Os donos destas embarcações passaram a cobrar. R$1,00 por travessia. E pessoas que precisam levar a família para um abrigo, retirar o pouco que sobrou de suas casa... tinham que arcar com mais este custo.
A população, agora abrigada em alojamentos, se viu alvo de saques noturnos às suas casas abandonadas, levavam o nada que havia sobrado de suas vidas. A polícia teve que usar toque de recolher e ronda nas áreas alagadas, a noite. Como se não bastasse toda essa situação surreal de exploração, pessoas que deveriam estar ajudando foram flagradas roubando mantimentos doados. Que tipo de sentimento passa por pessoas capazes de tais atos em meio a uma tragédia?
E aquelas pessoas que perderam tudo e eram exploradas em sua tragédia por seus próprios semelhantes, pessoas que agora conviviam com a falta de segurança, com o medo, com a desesperança... conheceram então o outro lado de seus irmãos. A solidariedade aflorou nos corações e devolveu humanidade e esperança. O socorro chegou, o empenho de bombeiros e policiais, de voluntários e de doadores de todo o Brasil e exterior. O Brasil se voltou inteiro para o estado de Santa Catarina, e tomou como sua aquela dor. Impressionante a mobilização instituída até então!
Como num "Estado de natureza" de Rousseau, a tragédia instituíu uma situação de selvageria, sem leis, sem autoridades, sem ética... e de separação também. Como no Ensaio sobre a Cegueira, do Saramago, a situação dividiu as pessoas envolvidas. Seria como naquela cidade fictícia, onde todos não podem mais enxergar, e por isso, aflora em alguns indivíduos suas reais tendências, tão podadas pela ética de viver em sociedade, e que agora podem executá-las, pois ninguém as vê nem as julga. Enquanto que outro, ainda que não mais vigiados, mantém sua consciência, sua solidariedade, sua moral e seus valores.
Com os desmoranamentos, vimos também como é o desmoronar de uma sociedade em seu conceito de civilização. Ainda que temporariamente, aquelas pessoas dividiram-se rapidamente em exploradas e exploradores. Mostrando o lado mais solidário e o mais cruel de nossa natureza humana.
Passei o natal com minha família. Com ceia, com festa, com alegria em minha casa, na minha terra... e de noite vou repousar no meu sono seguro, numa cama confortável... Mas e aquelas pessoas atingidas, como foi o natal?
Agora começará os programas de retrospectivas, e veremos todas aquelas imagens de novo. A tragédia passou, as consequências ficaram. Não deixem morrer esse sentimento solidário! Doe um pouco desta sua alegria, da sua festa, da forma que puder! Seu sono confortável e seguro, será também... mais tranquilo.
O QUE DOAR:
Alimentos: Não-perecíveis e dentro do prazo de
validade. A Defesa Civil orienta que os donativos, neste momento, sejam
alimentos que não necessitem de preparo, tais como barras de cereais, biscoitos
(doces e salgados), chocolate em pó, leite em caixa, água de coco, amendoim
torrado, frutas secas, mel, milho em conserva e paçoca.
Roupas e
calçados: As roupas devem estar em bom estado de conservação, limpas e
embaladas. Os calçados devem estar amarrados e com a numeração do par escrita no
solado.
Roupas de cama: Cobertores, lençóis e travesseiros também
são fundamentais neste momento. Os colchões são repassados diretamente pela
Defesa Civil.
Higiene pessoal: Escovas e pastas de dentes (novas)
xampu, sabonete e papel higiênico.
Utensílios domésticos: Água
sanitária, desinfetantes, sabão em barras, luvas e botas de
borracha.
PARA DOAÇÕES EM DINHEIRO:
Devem ser enviadas às contas
bancárias da Defesa Civil de SC:
BANCO DO
BRASIL
Agência:3582-3
Conta
Corrente:80.000-7
BESC
Agência:068-0
Conta
Corrente:80.000-0
BANRISUL
Agência:0131
Conta
Corrente: 06.852725.0.5
BRADESCO
Agência:0348-4
Conta
Corrente: 160.000-1
CAIXA ECONÔMICA
FEDERAL
Agência:1877
Conta
Corrente: 80.000-8
ITAÚ
Agência:0289
Conta
Corrente: 69971-2
* Desculpem o post muito alarmista
4 comentários
Realmente dá pra ficar horrorizado com as atitudes de algumas pessoas em meio ao desespero de outras. É nessas horas que eu me pergunto o que mais falta acontecer nesse mundo? Infelizmente tem gente capaz de tudo. =/
Mas as pessoas de bem, por mais que sejam minoria, não podem desistir e continuar. Pode não ser muito, mas pelo menos é um pouco. =)
Como passou de festas?
Tem presente pra vc lá no meu blog ;D
Beeeeeeeeijos
Olá!!!
Tem post novo lá no meu blog!=)
E tem 2 presentinhos pra vc!=)
Bjus!!
queriiido! :D
estou passando aqui porque decidi te indicar para o selo: 'blog maneiro'.. se você estiver interessado, passa lá no meu blog, e pega a foto e as regras (que pra mim são muitas -.-') hehehe
aliás, adorei o post, essa situação é mesmo uma coisa que nos deve fazer pensar, e que nos motiva a sermos pessoas melhores :)
beijo!
Bom dia!
Enquanto lia o seu texto, muito bem escrito por sinal, lembrei mesmo do Ensaio sobre a cegueira, até que mais adiante você citou o livro.
Acho que devido a postura de muitas pessoas em meio a tragédia não há mesmo como comparar este fato com outro livro.
Há um filósofo, do qual eu não me recordo o nome, que dizia que o ser humano tem a natureza má. Dependendo da criação que recebemos, somos moldados para sermos pessoas boas ou más.
Infelizmente, nem todos receberam a noção de solidariedade, respeito, união e amor ao próximo.
É lamentável...
Mas detoda a tragédia, fica a melhor parte: a mobilização solidária de pessoas com bom caráter!
Hoje é dia 05 de fevereiro de 2009:
- Como estão aquelas famílias?
Kiso
http://garotapendurada.blogspot.com/
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