De um tempo pra cá, surgiu um debate curioso: "risco de vida" ou "risco de morte"? Qual a forma correta?
Numa breve pesquisa pela internet, encontramos algumas informações interessantes.

A confusão se iniciou quando um famoso professor de língua portuguesa e consultor de vários meios de comunicação, provavelmente na ânsia por divulgar novidades, afirmou categoricamente que o termo "risco de vida" estaria incorreto. Teria ele explicado que, o termo "risco de morte" era o único aceito, por sua forma lógica. Teria dito este professor: "É risco de morte, pois só pode correr risco de vida um morto que está em condições de ressuscitar".

Por primeiro, nota-se que o “risco” é sempre sobre coisa ruim ("risco de infecção", "risco de contaminação", "risco de não se classificar para a fase final do campeonato", "risco de ficar desempregado", "risco de adoecer" etc.). Analisando brevemente, parece cabível e legítima somente a expressão "risco de morte", por seu entendimento mais lógico.

O que este professor talvez não tenha percebido, foi o fato de que, a expressão "risco de vida" sempre foi entendida como a forma elíptica da expressão "risco de perder a vida". Sim, pois desde sempre, os autores da língua portuguesa assim a tratavam. Falavam, escreviam, liam e ouviam esta expressão no sentido elíptico: pôr a vida em risco, arriscar a vida. A figura de linguagem "elipse" é definida como: "uma supressão de uma palavra facilmente subentendida. É a omissão intencional de um termo facilmente identificável pelo contexto ou por elementos gramaticais presentes na frase. Essa omissão torna o texto conciso e elegante".

Contudo, isso não se traduz em erro ou não aceitação da expressão "risco de morte". Seu emprego também é correto, com uma alteração. Risco de morte é utilizada quando a expressão vem adjetivada (risco de morte súbita, risco de morte precoce, risco de morte indigna), ou quando sugere uma estrutura verbal subjacente (risco de morte por afogamento, risco de morte por parada respiratória, risco de morte no 1º ano de vida, etc.), casos em que optar por "risco de vida" desconfiguraria o entendimento. Interessante é que, até mesmo a expressão "risco de morte", trata de um caso de elipse: "risco de morte" é a supressão de "risco de encontrar a morte", que por sua vez, deriva de "risco de encontrar o anjo da morte".

Destaca-se que a expressão "risco de morrer" esta sim, trata-se de uma expressão legítima, sem a figura da elipse.

Isso nos mostra como a mídia influencia diretamente na linguagem, moldando-a. É facilmente observável nos noticiários da TV e nas mídias impressas a adoção do “risco de morte”. Que instaurou a dúvida nos que usavam a expressão “risco de vida”. Seria o início de um desuso da expressão risco de vida?

Isso me lembra uma história que li há muito tempo, e que ilustra muito bem tudo isso:

Numa pequena cidade do interior, há algumas décadas atrás, a vida seguia mansa sem sinais de rádio da capital, muito menos os sinais de TV. No linguajar cotidiano de costume, Flamengo pronunciava-se “Framengo”, flagra entoava-se “fragra”... Até que chegou o sinal da TV, e com ele os primeiros televisores, e com ela as novelas, e com elas o “novela way of life”. O vilarejo, pela primeira vez, deu-se conta de sua pequenez e principalmente, de seu linguajar. Perceberam que era o correto seria “Fla x Flu”, e não “Fra x Fru”... Logo, trataram de modificar os modos locais. Tanto, e de tal forma que freira virou “fleira”.




* Não deixe de ler também o excelente artigo do Cláudio Moreno na Zero Hora, sobre esse assunto.

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